O simbolismo da deusa Mãe se expressava por meio das Vênus esteatopígicas e se inseria no contexto da incompreensão que se tinha naquela época de que a concepção é consequência da união sexual, da união dos princípios feminino e masculino. A mulher engravidaria por concessão divina, o que mostrava ter ela um diálogo privilegiado com a deusa Mãe. Nessas condições, a mulher tornava-se a única responsável pela fecundação. Quando o recém-nascido saía de dentro da mãe, ele tornava-se outro em relação a ela e a criação se consumava. A criação, gerando um outro ser, é sagrada. O nascimento é um mistério que alimenta a ideia de que toda criação é divina. Essa era a base da divinação da mulher.
As Vênus esteatopígicas do paleolítico superior são uma arte sem finalidade prática e dissociada dos instrumentos e dos utensílios de uso corrente. Elas não são o resultado de uma concepção anterior à visualização da pedra. Ao observar a pedra, porém, ele antevê a forma final da escultura. Quando o artista vê uma pedra e percebe ali, presa no cascalho, uma Vênus, ele imediatamente sente que está destinado a libertá-la. As Vênus, sendo uma busca estética pura, estão vinculadas a uma função sagrada. A busca estética, vale a pena insistir, é o caminho para se alcançar a comunicação com as divindades.

